“No começo da caminhada, as emanações internas do casulo estão agitadas e não há Consciência de Ser. Assim que se dispõe a viver como guerreiro, a pessoa começa o processo de organizar a bagunça da sua ilha do tonal de acordo com um roteiro.
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Nesta fase, está totalmente a mercê da mente falsa, pois sem consciência de ser qualquer pensamento é tão real quanto qualquer coisa. Terapias, auto psicologia, leitura de livros de poder, auto conhecimento, práticas de desenvolvimento da consciência física, são todas úteis nesta fase.
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Assim as emanações internas começam a se aquietar, e num instante de aquietação e alinhamento, a pessoa-guerreiro toma consciência de que existe! Se dá conta de que está vivo, agora! Não que não soubesse antes, mas era apenas um conhecimento emprestado, um fato intelectual comum.
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Este despertar dá nova força à caminhada e marca a firmação do guerreiro. Uma certa vibração, uma certa sensação da parte interna de seu corpo começa a emergir e equilibra sua existência, impedindo que se torne totalmente vulnerável a devaneios. Sua vida começa a se tornar mais disciplinada, regrada, se esforça pra se lembrar de si.
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Seu poder pessoal lhe dá forças pra ir contra a ordem social, de dirigir seu próprio caminho, de intentar. Há um grande sentido de aventura e assombro. Momentos de presente são intercalados com períodos de perder-se no diálogo interno.
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Munido desse poder pessoal, o guerreiro segue limpando sua ilha do tonal com seu intento inflexível. Nesta fase o sentido interno de solidão se intensifica já que suas relações com seu mundo velho que se resumem a interações superficiais se tornam desagradáveis e nocivas. Ele se aprofunda nas suas práticas, busca desatar nós e romper vínculos com o seu passado, minimizar suas projeções sobre o futuro, visando manter-se mais e mais consciente de si no momento presente e economizar energia. A mente social continua fortemente atacando, de todas as formas possíveis, buscando mantê-lo preso a banalidades e coisas do mundo.
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Até que chega o ponto em que este poder pessoal se cristaliza, sua consciência de si está firme. Algo no guerreiro suaviza. Sua vida se torna menos um esforço dirigido e mais um acontecimento natural. O guerreiro-bruxo se tornou um ser único, seus dois lados estão ativos. É capaz de entrar com naturalidade em estados mais ou menos prolongados de silêncio interior, sua segunda atenção começa a ter flashs de despertar. É capaz de atuar e se envolver no mundo exterior conservando seu sentido de eu-pessoal através da sua primeira atenção, mas com mais segurança e despreocupação que antes. Um afeto, uma gentileza, começam a brotar espontaneamente do seu ser em pequenas situações do dia a dia, e ele se torna mais seguro em se abrir à sensibilidade. Já está longe do alcance de quase todas as preocupações do seu mundo velho. Mais ciente e compreensivo com suas próprias sombras, passa a enxergar melhor as sombras dos outros, se torna mais perceptivo, capaz de intuir tramas invisíveis que acontecem ao seu redor. A sensualidade e as trocas de energia no presente o movem mais do que a disciplina.
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Se torna mais consciente do seu poder.
A mente social se aproveita agora de sua maior espontaneidade e busca atacá-lo criando desejos para que queira usar seu poder pessoal, e depois atormentando-o pelo sentimento de culpa e de responsabilidade pelos seus atos.
A porta principal é sempre a compaixão.
Também tenta fazê-lo regressar a manter um controle ativo sobre sua vida. Uma estranha dualidade entre o sentido de eu expandido e eu limitado se torna mais aguda. Ele se depara com o fato de que não consegue, por mais que se esforce, manter-se indefinidamente no silêncio.
O guerreiro-bruxo se vê diante do desafio de morrer pra toda sua compaixão por si mesmo, pra seus apegos, pra imagem que nutriu silenciosamente de si como “um grande guerreiro”, como um caminhante avançado. É normal que seu mundo desmorone por completo, seu karma exploda diante de seus olhos, seus sonhos e esperanças se desintegrem.
Ele atravessa o seu medo da morte.
Talvez recupere e reviva a lembrança de quando esse medo lhe invadiu pela primeira vez, ou talvez uma situação externa incite a lidar com o medo.
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E chega o momento em que, sem notar como, o bruxo se percebe profunda e totalmente desassociado do mundo à sua volta. Um vazio interior o toma. Ele se torna um observador natural. Nada mais é capaz de fisgar sua compaixão contra a sua vontade.
Um profundo silêncio começa a invadi-lo mais e mais. A contemplação acontece espontaneamente, a espera de algo indefinido. Nestes momentos as emanações internas do seu casulo se aquietam profundamente por momentos prolongados e se alinham com as emanações externas,
e a consciência de ser se expande tomando toda a ilha do tonal, fazendo sua sensação de eu desaparecer por completo. Vislumbres da sua luminosidade e, mais raramente ainda, do mar escuro, ocorrem. Algo começa a se dar conta da irrealidade da separação entre o mundo interior e exterior.
O bruxo não sabe mais como avançar no caminho.
A mente social só consegue tocá-lo com promessas de poder mediante esforços pessoais. Ele deve ter claro então que nenhuma técnica poderá ajudá-lo, e apenas intentar, desde seu silêncio, e contemplar.
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Chegará o momento então em que, por fim, tomará consciência que Vê, e de que sempre Viu! Tomará consciência do seu Ovo luminoso. Sua segunda atenção despertará por completo e tomará consciência da irrealidade da sua forma humana.
A mente social agora se tornará apenas uma voz supérflua, e incapaz de tocá-lo enquanto permanece sua impessoalidade. Sua loucura pela primeira vez estará realmente controlada. Oscilações ocorrerão ainda no ponto de encaixe, indo da consciência luminosa para a identificação pessoal, e durarão cada vez menos tempo pois ele será capaz de Ver através da ilusão desta e de qualquer descrição de mundo.
Nesse momento o desafio é de abandonar de vez a identificação com a ideia de estar limitado à forma humana e se reidentificar como consciência luminosa, o que fará seu ponto de encaixe estabilizar na nova posição, e diante talvez da etapa final da sua caminhada: o desafio da Liberdade Total.”
 
– Jeremy Christopher

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