(Dom Juan perguntou-me se eu sentia o que meu nagual tinha feito.) Tinha uma sensação de tonteira, quase de indiferença, como se eu realmente não me importasse com coisa alguma. Aí essa sensação passou a ser a de uma concentração hipnótica. Era como se eu todo estivesse sendo lentamente sugado. O que atraía e me deixava atento era a sensação nítida de que um segredo portentoso me seria revelado e que eu não queria que nada atrapalhasse essa revelação.
– O que lhe ia ser revelado era a sua morte – disse Dom Juan. – Aí está o perigo de a pessoa se entregar. Especialmente para você, pois você é naturalmente exagerado. Seu tonal é tão dado a entregar-se que ameaça sua totalidade. Isso é uma maneira terrível de ser.
– O que posso fazer?
– Seu tonal tem de se convencer por motivos, seu nagual por ações, até um apoiar o outro. Conforme lhe disse, o tonal governa, e, no entanto, é muito vulnerável. O nagual, ao contrário, nunca, ou quase nunca, se manifesta, mas, quando o faz, apavora o tonal… O tonal deve ser protegido a todo custo. É preciso tirar-lhe a coroa, mas ele tem de continuar como o administrador protegido. Qualquer ameaça ao tonal sempre acaba em sua morte. E se o tonal morrer, o homem todo também morre. Em virtude de sua fraqueza inerente o tonal é facilmente destruído e assim uma das artes que equilibram o guerreiro é fazer o nagual aparecer para sustentar o tonal. Digo que é uma arte porque os feiticeiros sabem que só reforçando o tonal é que o nagual pode aparecer. Entende o que digo? Esse reforço chama-se poder pessoal. “
(Porta para o Infinito, Carlos Castañeda)
(Compartilhado por Izaias Borba)