Apesar de que Carlos tocava com freqüência o tópico da morte, evitava referir-se ao que acontece depois que a pessoa morre. Eu achei que essa ocasião era boa para indagar sobre sua opinião a respeito.

– Carlos – perguntei -, o que nos acontece quando morremos?

— Isto depende, respondeu. A morte nos toca a todos, mas não é a mesma para todos. Tudo depende do nível energético.

Assegurou que a morte de uma pessoa comum é o fim de sua viagem, o momento em que tem que devolver à águia toda a consciência que obteve enquanto estava viva.

— Se não temos outra coisa que nossa força vital para oferecer, teremos acabado. Esse tipo de morte apaga qualquer sentimento de unidade.

Perguntei se aquela era sua opinião particular ou um conhecimento tradicional dos videntes. Respondeu:

— Não é uma opinião; eu estive no outro lado e sei. Vi as crianças e adultos que vagam por lá e observei os esforços deles para se lembrar de si mesmos. Para aqueles que dissiparam sua energia, a morte é como um sonho passageiro, cheio de borbulhas de recordações cada vez mais desvanecidas, e então, o nada. Você pode ver que quando uma pessoa comum sonha, ela não é capaz de focalizar a atenção dela em nada; ela não tem nada além de sua fragmentada memória, alimentada com as experiências que acumulou ao longo de sua vida. Se essa pessoa morre, a diferença é que seu sonho se alonga e já não acorda novamente. É o sonho da morte. A viagem da morte pode levá-lo para um mundo virtual de aparições onde contemplará a materialização de suas crenças, de seus céus e infernos, privados, mas não passa daí. Tais visões vão desaparecendo com o tempo, quando o impulso da memória for se esgotando.

— E o que acontece com a alma de quem morre?

— A alma não existe, o que existe é a energia. Uma vez que desaparece o corpo físico, a única coisa que resta é uma entidade de energia alimentada pela memória. Alguns indivíduos estão tão esquecidos de si mesmos que morrem quase sem perceber. Eles são como os amnésicos, pessoas que têm um bloqueio do ponto de aglutinação e já não podem alinhar as recordações, eles não têm continuidade; portanto, eles se sentem permanentemente à borda do nada. Quando morrem, essas pessoas se desintegram de forma quase instantânea, porque o impulso de suas vidas agüenta apenas uns poucos anos. Porém, a maioria das pessoas demora um pouco mais para se desintegrar, entre cem e duzentos anos. Aqueles que tiveram vidas cheias de significado, podem resistir até meio milênio. O prazo amplia ainda mais para aqueles que conseguiram criar laços com as massas de pessoas; esses podem reter sua consciência durante milênios inteiros.
Não importa o que faça ou como tenha vivido; a pessoa comum não tem a menor oportunidade para seguir adiante. Para os bruxos, que vivem de cara com a eternidade, cinco anos ou cinco milênios não são nada. Por isso eles afirmam que a morte é desintegração instantânea.

(…)

Se você acredita que os bruxos são pessoas amigáveis se equivoca; são naguais. Quando o bruxo se transforma em inorgânico, ele volta ao que sempre foi: uma emanação do depredador cósmico”.

(Encontros com o Nagual, Armando Torres)
(Compartilhado por Andre Pernalonga)

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