“Em outra ocasião Castañeda voltou a tocar no tópico das relações sexuais aborrecidas, sua conversação derivou para a manipulação da energia sexual. Ele nos falou que a força geradora que é colocada em nós é transcendente e tem muitos usos dos quais não estamos completamente conscientes. É lamentável que a maioria das pessoas só saibam pensar no sexo em termos de prazer corporal. É como o uso que se pode fazer um selvagem quando por casualidade tropeça com um livro muito valioso; tudo o que vê ali é um material apropriado pra acender fogo.

Gastamos a maior parte de nossa vida nos preocupando como o modo como nos verão os membros do sexo oposto. Isso implica, em primeiro lugar, uma atenção constante com a aparência física. E, além disso, frequentar lugares para onde vão as pessoas que estão na nossa mesma situação, estabelecer compromissos e investir muitas horas falando coisas periféricas, mas com a mente fixa em nosso objetivo libidinal. Tal investimento é exagerado.

Os feiticeiros do México antigo sabiam que o fundamento do sexo não é o prazer e nem a reprodução. Como vocês acreditam que o poder que nos rege se preocupa em gerar algo tão importante quanto a força geradora, só pra nos prover de breves momentos de distração, ou de forma que nos perpetuássemos como cogumelos sobre a terra?
O propósito do sexo vai mais além, pois nos conecta com o mistério de origem de todas as coisas, porque se o universo surgiu d uma única explosão que dura até hoje e se expressa toda vez que fazemos amor. Se a fonte do que somos é o poder germinal, então o centro de nosso trabalho interior é a RECANALIZAÇÃO da energia sexual.

Percebam o que vocês têm e não o desperdicem! Nosso destino cósmico é EXPANDIR a consciência, por isso mesmo fomos dotados de uma porção do poder criativo que tudo abarca, na visão dos videntes toltecas, A Águia. O sexo existe pra Ensonhar!

Afirmou que teoricamente, o intercâmbio sexual dos casais não tem porque afetar a disponibilidade luminosa energética de cada um dos participantes, já que o homem toma da mulher tanto quanto ela toma dele. E o resultado é um equilíbrio neutro. Em todo caso, o indesejável da operação é que a energia sexual se mistura, razão pela qual são gerados laços de dependência que restringe nossa liberdade e exigem longos anos de Recapitulação para serem desfeitos. Mas na prática, esse tipo de intercâmbio é do mais extenuante para nossa vitalidade, porque quando fazemos amor, o movimento da energia não ocorre num sistema fechado; há sempre uma fissura lá.

Ter sexo com uma pessoa é fazê-lo coma a cadeia genética inteira que lhe deu origem, pois, devido ás fibras de drenagem que nos conectam com nossos progenitores, os entes humanos não são autonomias luminosas, mas elementos terminais. De forma que, embora o ato sexual aconteça entre indivíduos, é a forma humana, a fixação coletiva do ponto de aglutinação da percepção, que leva a maior parte da energia processada deste modo. Essa fixação é a responsável pelos sentimentos de ciúmes, dependência e apegos que nós estabelecemos com nossos companheiros sexuais. E isso faz que nos transformemos em investidores empedernidos, pervertendo até á vileza uma palavra tão nobre quanto ´amor´; (…) .

Como é difícil dar sem esperar algo em troca! O amor cotidiano termina se transformando em dívida quando os outros nos reivindicam a atenção que nos prestaram. E uma dívida em termos de sentimentos é fatal ao amor!

Por esses motivos, uma das prioridades do guia nagual e dos guerreiros é destruir os esquemas sexuais de seu aprendiz.

(…)

O que caracteriza os guerreiros do nagualismo é sua renúncia a serem vítimas do comando reprodutor coletivo e sua capacidade para eleger um uso responsável pra energia sexual. E nenhum deles pode ser apanhado em uma classificação sexual. Eles são livres, procedem em cada momento de acordo com o que lhes indica o Poder. Pra desenvolver esta visão, eles precisam de uma sobriedade que a pessoa comum não conhece. Geralmente os novos videntes optam por uma posição de celibato e auto-suficiência, poque eles são muito avaros com a energia e preferem dedicá-la ao aumento de sua consciência. Os mundo de que são testemunhas em suas viagens do ponto de aglutinação pelo infinito fazem com que todas as outras coisas, até mesmo o ato sexual pareçam pálidas e carentes de atrativos. Dom Juan dizia que fazer amor é para aqueles que não tinham apegos.

(…)

Atendendo a uma pergunta, Castañeda sustentou que o melhor modo de cortar a drenagem de energia que acontece na pela sexualidade é aprendendo a ter expressões magnânimas, que contradigam e recanalizem a fixação da nossa atenção.

Nós recebemos a vida como um presente cósmico e é nosso privilégio refletir aquele gesto com desprendimento total. Graças ao seu desapego, o guerreiro está em posição de fazer do amor dele um cheque em branco, incondicional, um afeto abstrato, porque não parte do desejo, então que maravilha!

Contra tudo que a mentalidade mediana possa pensar, a natureza dos bruxos do conhecimento é passional. Só que seu objetivo não é carnal. Eles viram que a cola que une todas as coisas, uma onda de paixão que inunda o universo e que não pode ser detida pois, se assim fosse, tudo seria reduzido a poeira cósmica e nada.

Através do seu ver, estabeleceram sua base na pedra angular da consciência: o mais poderoso estado de atenção individual. O amor deles é uma realidade demolidora que vibra em cada respiração, intenta em cada gesto e adquire sentido em cada palavra; uma força que os impelem a explorar, a correr riscos e a evoluir, dando o melhor de si a cada momento.

Os bruxos descobriram a forma mais refinada de amor, porque eles amam a si mesmos. Eles sabem que tudo aquilo que nós damos pra fora é um reflexo do que nós temos dentro. Eles puseram o poder da paixão ao serviço do ser, e isto lhes dá o impulso necessário para empreender a única busca que conta: a totalidade de si mesmo.”

(Encontros com o Nagual, Armando Torres)
(Créditos pela digitação: Dinarte Medrano)

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