Examinando os inimigos no caminho do conhecimento – Parte 2: A Clareza

A Clareza é a estabilidade da nossa visão de mundo,
e é a confiança nessa estabilidade.

Assim, quando alguém conquista a Clareza, e se deixa conquistar por ela, começa a ter a sensação de enxergar as coisas cada vez mais claramente.
O mundo se torna claro.

A Clareza é a nossa capacidade de fixar o ponto de encaixe em uma determinada maneira de ver o mundo.

Isso dá lugar a uma convicção que afasta o desconhecido e o medo dele.

Naturalmente, o mundo tem uma coerência dentro dessa visão.
e com isso surge a sensação de segurança de poder prever o curso das coisas.

Quanto mais nos entregamos à clareza mental, mais convencidos ficamos da nossa visão de mundo.
Mais seguros ficamos de ter a razão,
e de entender e enxergar a realidade de forma mais acertada do que os outros.

Num ponto extremo podemos começar a acreditar que somos sóbrios e imparciais, e que todos que não vêem o que vemos são errados, ignorantes, cegos, ou iludidos.

Com isso, nos tornamos impacientes e precipitados,
guerreiros valentes e destemidos,
ou pessoas que acabam fazendo papel de palhaço,
como diz o nagual Juan Matus.

A Clareza é um inimigo altamente desafiador,
porque não existe motivo para duvidar dela: nossas convicções sobre a realidade parecem se confirmar em nossas experiências. E assim ficamos cada vez mais convencidos de que não temos motivos pra duvidar de nós mesmos, até ficarmos cegos para outras possibilidades do ponto de encaixe e não enxergarmos mais nada senão nossas próprias certezas.

Seremos claros até morrer, não voltaremos a ser dominados pelo Medo, mas não aprenderemos mais e não avançaremos realmente mais em direção ao Conhecimento.

A maneira de desafiá-la, como indicam os antigos,
é duvidar ativamente da Clareza. Considerá-la quase como se fosse um engano.
Medir cuidadosamente e atentamente as nossas expectativas antes de tomar decisões e agir.
E usá-la só para observar, mas não para tirar conclusões a respeito das coisas.

Agindo assim, tomaremos mais consciência das nossas expectativas tanto positivas, quanto negativas.
E poderemos perceber a relação existente entre nossas expectativas dominantes e as nossas experiências.

Uma das características da entrega à Clareza é o próprio medo de perder a Clareza, o medo de colocarmos em dúvida a veracidade da nossa visão de mundo.
Por isso, projetamos a responsabilidade pelas nossas experiências negativas nos outros.
Mas ao desafiá-la, perceberemos melhor com o tempo a relação entre as nossas experiências negativas e as nossas expectativas negativas que antes escolhiamos ignorar, das quais não tomávamos consciência.

Eventualmente, chegará o momento em que nos daremos conta do que os toltecas chamam de “espelho da percepção”.

Perceberemos que o que está e esteve em jogo durante esse tempo todo não era ter a razão, mas simplesmente o fato de que as nossas próprias convicções são refletidas para nós.

Como disse o nagual Juan Matus, o mundo que percebemos é um reflexo nas paredes da nossa bolha. E o que está sendo refletida é a nossa própria visão de mundo. A interpretação em que, conscientemente ou não, estamos escolhendo acreditar.

Perceberemos que conforme a nossa própria convicção e posição de ponto de encaixe muda, as experiências também mudam.
Perceberemos que a realidade que enxergamos não é a mesma para todos.
Que os outros seres também estão experienciando suas convicções sendo refletidas para si mesmos, de forma tão real quanto nós mesmos.
Que existe uma versão de mundo diferente acontecendo pra cada pessoa diferente, em cada bolha diferente.
Que o mundo estava se mostrando de acordo com as nossas convicções não porque estávamos certos a respeito dele,
mas porque através delas estávamos intentando uma determinada posição de ponto de encaixe e um determinado fluxo de experiências.

E à medida que tomamos consciência de que a maneira como manejamos nosso elo com o Intento é quem está determinando a nossa experiência de realidade,
a nossa Clareza naturalmente perderá o comando.
Perceberemos que ela era apenas um ponto diante da vista. Uma realidade possível entre muitas outras.
E através dessa compreensão, as asas da percepção começarão a se abrir, e essas muitas outras realidades estarão ao nosso alcance.
Teremos enfim chegado ao Poder.

Nota: Muitos confundem Clareza com Lucidez, ou o próprio Conhecimento Silencioso, a consciência do elo com o Espírito. São coisas muito diferentes.
O Conhecimento Silencioso é o próprio Conhecimento que faz de um homem ou mulher, uma mulher ou homem de Conhecimento.

— J Christopher

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