“(Dom Juan:) Os xamas consideram qualquer coisa relativa à interação com as pessoas, não importa quão insignificante seja, como estar num campo de batalha. Nesse campo de batalha, os feiticeiros executam o melhor de sua mágica, o melhor de seus esforços. A melhor arma, o melhor truque é enfrentar os oponentes abertamente. Pessoas tímidas evitam o relacionamento a um ponto tal que, mesmo interagindo, elas meramente inferem ou deduzem, com relação aos seus estados psicológicos, o que está acontecendo sem perceber o que realmente está acontecendo. Elas interagem sem nunca fazer parte da interação.

Olhe sempre para a pessoa que esteja disputando um cabo de guerra com você. Não apenas puxe o cabo; olhe-o nos olhos. Você então perceberá que ele é um homem, do mesmo modo que você. Não importa o que diga, não importa o que faça, ele está tremendo dentro de suas botas, igualzinho a você. Olhe com um olhar que torne seu oponente indefeso, ainda que por um instante; só então aplique seu golpe.

Os feiticeiros não admiram as pessoas num vácuo. Eles falam com essas pessoas; eles travam conhecimento com as mesmas. Estabelecem pontos de referência. Comparam. O que você está fazendo é um pouco infantil. Você está admirando à distância. Isso parece muito com o que acontece com o homem que tem medo de mulher. No final, suas gônadas falam mais alto que seu medo e compele-o a adorar a primeira mulher que diga um ‘alô‘ para ele.

Não admire as pessoas de longe. Esse é o modo mais seguro de criarem-se seres mitológicos. Fique perto de seu professor, fale com ele, veja o que ele é como homem. Teste-o. Se o comportamento de seu professor for o resultado de sua convicção de que ele é um ser que vai morrer, então tudo o que ele fizer, não importa o quanto estranho seja, deve ser premeditado e definitivo. Se o que ele diz for simplesmente palavras, ele não vale um tostão furado.”

(O lado Ativo do infinito, Carlos Castañeda)
(Compartilhado por Felipe Matus)

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