P: Como mover o ponto de encaixe?
Izaias Borba: Ter estratégia no exercício de deslocamento do ponto de aglutinação é essencial: primeiro move-se ele para um ponto próximo. Este ponto fixado é o campo de onde se decola para os movimentos mais ousados, ou o ponto de retorno de outros planos ou realidades; ele é o ponto ideal, intermediário entre a segunda e primeira atenção, o local de aprendizagem. Temos de nos habituar a ir e voltar a este ponto próximo antes de ousar ir além. Este é o método. Somente assim pode se obter certo progresso e desenvolvimento. De outra forma, se os movimentos continuarem erráticos, sem ordenação, sem metodologia, podem trazer experiências incríveis, êxtases surpreendentes, mas não auxiliam no desenvolvimento e nem proporcionam acumular poder.
Juan Tuma: No meu caso, a melhor maneira de deslocar e manter o P.A em uma nova posição é através da Espreita…quando você muda seu comportamento, essa mudança provoca pequenos deslocamentos do P.A…deslocamentos minúsculos, porém firmes e estáveis que já mudam nossa percepção…mudanças maiores provocam deslocamentos maiores…e se você manter esse novo comportamento por um tempo suficiente, você adquire maestria naquela nova posição…por exemplo: se você é um gordinho sedentário e resolve começar a malhar, você está deslocando seu P.A para uma nova posição…se você manter esse intento inflexível e continuar malhando por um tempo consistente, vários meses ou anos, você deslocou de vez seu P.A …fixou ele em uma posição de muito mais poder do que a que você estava antes…podemos dizer que dessa nova posição do seu P.A, sua visão de mundo e de si mesmo é outra. Através da Espreita você também pode fazer mudanças mais inusitadas de comportamento, porém por um período menor de tempo, apenas para treinar a flexibilidade do P.A, deixando ele mais solto e propenso a pequenos deslocamentos, e assim também praticar a fixação dele em novas posições.
Jeremy Christopher: Na minha experiência o que desloca o ponto de encaixe de forma radical é o que o caminho do guerreiro faz, aprendendo a cancelar progressivamente o intento da primeira atenção, porque é isso que faz com que o ponto de encaixe sempre retorne pra posição inicial depois de ter sido movido uma e outra e outra vez, por qualquer meio e técnica que se use. Nesse sentido não tem atalhos, o pe passa primeiro pela fixação na não-piedade, e depois no conhecimento silencioso. Todos os outros movimentos, por mais extraordinários que tenham sido, depois voltaram pra posição normal. Mover o pe, uma vez que a gente aprende a se silenciar e entra no estado de desprendimento da primeira atenção não é tão difícil. Até as palavras podem movê-lo. A intenção inflexível é o ingrediente básico. Mas fixar o ponto numa nova posição exige intentar mantê-lo fixo lá por tempo suficiente até adquirir o que o dom Juan chamou de coesão e uniformidade nessa nova posição. A limitação das plantas é que elas não permitem fazer isso por si só.
Cada posicionamento tem seus “macetes” pra adquirir coesão, que podem ser ensinados e aprendidos (mas que por texto são mais difíceis de se comunicar). Por isso o inquilino pôde ensinar tantas posições pros naguais antigos. Sem saber os truques pra ter coesão ali, tem posicionamentos que eles talvez nunca se dedicariam a aprender pelo esforço que demandaria. Por outro lado eles pelo jeito perceberam que saber ter coesão nessas posições não ajudava em grande coisa pra se libertar, por isso se concentraram na não-piedade e no conhecimento silencioso.
Mas basicamente manter o ponto de encaixe numa posição determinada sem nenhuma ajuda é questão de intentar essa posição desde o silêncio interno e depois intentar e intentar e intentar que ele permaneça ali até descobrir como ter coesão lá.