A história do nagual Bob

“Antes de falar sobre esta porção do regulamento da qual vieram a tirar o pó e examinar esse casal de videntes, e de como chegaram a tomar conhecimento disso, contarei um pouco da história deste que vim a conhecer pelo nome de sir Bob Laugh, ou simplesmente Bob, que como muitos e muitas aqui, foi um guerreiro de “primeira geração” do novo ciclo, sem contato direto com nenhum mestre nagual.

Muitos anos antes de se fazer um guerreiro, sir Bob era um jovem canhoto e sensível dotado de talento e uma visão pouco convencional das ciências exatas, filho do meio de três irmãos homens e uma irmã mais velha. Já com seus 18 anos, no início dos anos 70, deixou de lado essa chama de questionamento para vir a se transformar num grande executivo de marketing de uma das maiores editoras do país.

Com sua incansável disciplina que sempre lhe foi característica, tinha se graduado em 3 faculdades e obtido um mestrado em menos de 10 anos. Mas, enquanto seu currículo e capital cresciam, internamente estava sendo corroído pelos complexos silenciosos da mente social. Estava cada vez mais desconectado do seu corpo, vestindo uma máscara de sucesso e poder que não correspondia aos sinistros, confusões e nós emocionais que se acumulavam em seu interior, pois o coração pouco a pouco foi ficando ausente de todos os aspectos da sua vida.

Foi nessa época, já no início dos anos 80, quando trabalhava de diretor de marketing da Abril, que o Espírito bateu à sua porta. Um amigo do trabalho, numa noite após o expediente, lhe apresentou uma planta de poder. Apesar de seu preconceito, acabou aceitando experimentar, e instantes após fumar experienciou, para seu assombro, uma mudança de percepção que nunca concebera ser possível.

Irrompeu um silenciar do seu diálogo interno, acompanhado de um relaxamento profundo de tensões que nem tinha consciência de que pudessem ser relaxadas, uma vivacidade e intensidade no seu corpo e agudez perceptiva que nem suspeitava ou se lembrava que fossem possíveis de serem experimentadas. Nas palavras dele, uma “pilastra do seu mundo velho havia caído”.

Então com seus 30 anos, na década que se seguiu largou toda a sua carreira e a maior parte do seu circulo de conhecidos, abriu um negócio de cursos em sociedade com um amigo, começou a estudar teatro, dançar e se desinibir e se reconectar com seu corpo. Leu uma quantidade enorme de livros esotéricos dentre os quais o primeiro livro do Castaneda, o que o levou a procurar todos os outros que tinham sido publicados e a lê-los e relê-los e se dedicar intensamente a assimilar os atributos do guerreiro e silenciar seu diálogo interno. Enfrentou voluntariamente medos, complexos e nós emocionais. Muitos dos quais se curou à luz do amor que conheceu pela primeira vez na relação apaixonada e também conturbada, pela diferença intensa de direções de vida, que viveu por alguns anos com a irmã mais nova de um amigo. Também envolveu-se profundamente com os ensinamentos de um famoso guru indiano de então.
Após anos de busca, chegou a um ponto onde não tinha sobrado pedra sobre pedra de sua vida antiga e tinha aberto mão de quase tudo em busca do Espírito. Seu velho mundo desmoronava, sua empresa beirava a falência, tinha abandonado no meio uma bolsa de doutorado na Inglaterra, mas interiormente estava mais vivo, lúcido, livre do que nunca. E também mais intensamente abalado pelo chamado do Espírito. Apesar de alguns sonhos que lhe alertavam a não ir, resolveu abrir mão do pouco que faltava e viajar até a Índia para se juntar a esse mestre. Porém, um dia antes de sua ida ouviu no rádio a notícia de que esse mestre havia desencarnado. Foi a gota d’água que fez ruir sua visão de mundo.

Foi até um ashram de seguidores desse mestre, e lá entrou inesperadamente em um estado de silêncio profundo onde segundo relatos que ouviu, passou mais de um dia inteiro “desacordado” a andar circundando o templo para o assombro das pessoas presentes que o olhavam como se fosse um demônio. Mas de volta ao tonal, na sua lembrança, tinha entrado numa escuridão total de morte, onde em certo momento se abriu uma figura “mais escura que a própria escuridão”, e que ele soube ser a presença de Sílvio Manuel. Ao que se sucederam outras visões, que na somatória das impressões deixadas, fortaleceram uma silenciosa compreensão.

Encerro essa história acrescentando que seu encontro com a jovem Belita veio a acontecer dois anos depois, e que quando conheci o nagual Bob seu tonal já passava dos 50 anos de idade.”

(Tito Roman)

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