Gostaria agora de delinear a possibilidade de uma nova área de investigação filosófica, articulada na definição de certos conceitos dos feiticeiros do México antigo.
O primeiro conceito é o ver: a capacidade que os seres humanos têm de perceber a energia como ela flui no universo. Essa percepção usa todo o organismo como veículo. A energia adota configurações específicas, não idiossincráticas, que podem ser apreendidas nos mesmos termos por qualquer um que vê.
Outro conceito é o intento: uma força perene que permeia todo o universo, uma força que é consciente de si mesma e responde ao chamado dos feiticeiros. O ato de usar o intento é chamado de intentar.
A subjetividade resultante da percepção direta da energia não é guiada pela sintaxe. Essa nova intersubjetividade existe por meio do que os feiticeiros chamam de poder, a soma total de todo o intentar reunido por um indivíduo. Para os feiticeiros, intencionalidade ou intentar é a utilização pragmática do intento.
Tomando a capacidade dos feiticeiros de perceber a energia diretamente como ponto de partida, é possível conceber uma nova área de discurso filosófico. Os feiticeiros consideram que a percepção direta da energia é o precursor que nos levaria a uma nova subjetividade, livre da sintaxe, como forma de alcançar o intento.
(Carlos Castaneda, O Caminho do Guerreiro – Um Jornal de Hermenêutica Aplicada)