A fenomenologia é um método filosófico proposto por Edmund Gustav Husserl (1859-1938). Ele postulou a fenomenologia como um método filosófico para o estudo das essências. Ele a via como uma filosofia transcendental que lida apenas com o resíduo deixado após a realização de uma redução, que ele chamou de epoché, a suspensão do significado ou a suspensão do juízo. Ele pretendia que a fenomenologia fosse um método para abordar a experiência vivida como ela ocorre, sem parar para considerar suas explicações causais.
Da minha associação com don Juan Matus, cheguei à conclusão de que a suspensão do juízo que Husserl postulou é impossível de ser alcançada quando é um mero exercício do intelecto. Disseram-me que, quando perguntaram a Husserl uma indicação pragmática de como realizar essa redução, ele disse: “Como diabos eu vou saber? Eu sou um filósofo”.
No mundo dos feiticeiros, a suspensão do juízo é uma necessidade de toda prática xamânica. Os feiticeiros expandem sua percepção a ponto de perceberem sistematicamente o desconhecido e, para isso, precisam suspender seu sistema de interpretação normal. Este ato é realizado por necessidade de sobrevivência, em vez de escolha. Nesse sentido, os praticantes do conhecimento de don Juan vão um passo além dos exercícios intelectuais dos filósofos. A proposta deste jornal é correlacionar as declarações feitas por filósofos com as realizações práticas dos feiticeiros.
(Carlos Castaneda, O Caminho do Guerreiro – Um Jornal de Hermenêutica Aplicada)