Don Juan explicou mais que a arte da feitiçaria é manipular o ponto de aglutinação pela ação da vontade e fazê-lo mudar de posição dentro da esfera luminosa que são os seres humanos. O resultado dessa manipulação é a mudança do ponto de contato com o mar escuro da consciência, resultando, concomitantemente, que um novo feixe de enilhões de campos de energia, sob a forma de filamentos luminosos, converge no ponto de aglutinação. A conseqüência desse fato é o surgimento da percepção de algo diferente do mundo do dia-a-dia; nossa percepção transforma os novos campos de energia em dados sensoriais, os quais são interpretados e percebidos como um mundo diferente, pois os novos campos de energia são diferente dos habituais.

Ele disse que uma definição acurada da feitiçaria como uma prática seria dizer que ela é a manipulação do ponto de aglutinação com o propósito de mudar a nossa ligação com o mar escuro da consciência, e assim perceber novos mundos.

Don Juan disse que a arte da espreita entra em cena após deslocado o ponto de aglutinação. Manter o ponto de aglutinação fixado em sua nova posição assegura aos feiticeiros a percepção de um novo mundo no qual eles entram em sua absoluta totalidade, exatamente como acontece com o mundo do nosso dia-a-dia. Para os feiticeiros da linhagem de don Juan, o mundo do nosso dia-a-dia é apenas uma dobra de um conjunto que possui pelo menos 600 dobras.

Don Juan voltou de novo ao tópico que discutíamos: minhas viagens pelo mar escuro da consciência, e disse que o que eu fizera a partir do meu silêncio interior foi bastante similar àquilo que ocorre no sonhar quando se está dormindo. Quando se viaja pelo mar escuro da consciência, entretanto, não existe nenhum tipo de interrupção causada pelo adormecer, e nem pode haver qualquer tipo de tentativa de controle da atenção como quando estamos sonhando. A viagem através do mar escuro da consciência acarreta uma resposta imediata. Existe uma sensação dominadora do aqui e agora. Don Juan lamentou o fato de que alguns feiticeiros idiotas tenham dado o nome de sonhar-acordado a esse ato de atingir o mar escuro da consciência diretamente, tornando o termo sonhar ainda mais ridículo.

(O Lado Ativo do Infinito, Carlos Castañeda)
(Compartilhado por Arpelau)

Posts Relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *