Um dos pontos chave para chegar na passagem do tonal pro nagual é a percepção firme e clara do tonal indescritível, uma das últimas partes da explicação dos feiticeiros.

É quando a “toalha” que cobre a ilha do tonal é erguida, e a certeza do conhecido é revelada ser uma ilusão.

Retirar essa toalha é uma “simples” mudança de perspectiva. Essa mudança resulta da compreensão acerca do processo de formação da nossa percepção, ou como dizem os novos videntes, do “desnate” da percepção.

A ilusão do conhecido é como um efeito especial ou um truque de mágica, em que tornamos algo incognoscível em algo aparentemente corriqueiro e que temos a certeza de ser conhecido. O ponto de encaixe precisa estar desatento ao passo a passo do processo, assim como de um pouco de fé, pra que tudo pareça real.

Toda guerreira e guerreiro sabe que a percepção que temos do mundo não é definitiva: ela muda conforme o ponto de encaixe muda.
Pode ser uma pequena variação na forma como nos sentimos a respeito das coisas, uma pequena variação de humor, que muda por completo a experiência que temos delas, ou pode ser uma mudança mais radical, em que a forma como percebemos as coisas muda por completo.

Quando temos a impressão de ver um objeto ou um ser conhecido, como um gato por exemplo, não estamos percebendo O gato: estamos vendo a DESCRIÇÃO que fazemos do gato, a percepção que temos dele, a interpretação que fazemos dele de acordo com a posição do nosso ponto de encaixe. Essa interpretação ocorre dentro dos limites do nosso casulo / bolha perceptiva. Não é a mesma pra todos os seres, pode variar muito ou pouco conforme a posição de cada ponto de encaixe. O que percebemos nunca é “O gato” em si: é apenas e sempre uma interpretação.

Então, se damos um passo adiante (ou pra trás) e olhamos mais cuidadosamente, não podemos nem dizer que é uma percepção DO gato, porque o que vemos como gato já é uma interpretação, e não sabemos de fato nada sobre aquilo que está afetando nossos sentidos. É, como dizem os espreitadores, um mistério insondável. Sabemos apenas da percepção que temos. Estamos apenas conscientes de que estamos tendo uma percepção.

Se damos mais um passo, e olhamos ainda mais cuidadosamente, podemos realizar o fato de que tudo que sabemos sobre essa experiência chamada “ter uma percepção” é a consciência que temos dela. Ou seja, tudo o que sabemos é que estamos conscientes. Ela é feita de consciência.

Nós não conhecemos objetos. E quando abandonamos a ideia de conhecer objetos, por perceber a ilusoriedade da ideia, abandonamos a ideia de que estamos tendo percepções. Realizamos que as experiências de objetos conhecidos, e as experiências de percepção, são feitas apenas de consciência. Esse conhecimento silencioso é a única substância com a qual entramos realmente em contato em toda e qualquer experiência aparente.

Como disse dom Juan, até o final da explicação dos feiticeiros é dada à razão a impressão de que o tonal é previsível e conhecido.
Mas a razão apenas testemunha uma ordem aparente, “sem nunca saber nada sobre essa ordem”. O tonal, embora aparentemente cheio de ordem, é um vazio indescritível. Debaixo desse véu, ele também é nagual.

Estamos rodeados pelo incognoscível.

J Christopher

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