“Treinou-nos a Ver juntos e conseguiu nos mostrar que, embora os seres humanos pareçam ovos luminosos ao observador, a forma de ovo é um casulo externo, uma casca de luminosidade que encerra um núcleo muito intrigante assustador e hipnótico, formado de círculos concêntricos de luminosidade amarelada, a cor da chama de uma vela. Durante nossa sessão final, ele nos fez ver pessoas dando voltas numa igreja. Era fim de tarde, quase escuro, e ainda assim as criaturas dentro de seus rígidos e luminosos casulos irradiavam luz suficiente para tornar tudo em volta deles claro como cristal. A visão foi maravilhosa.
Dom Juan explicou que as cascas em forma de ovo que pareciam tão brilhantes para nós eram na realidade opacas. A luminosidades emanava do núcleo brilhante; a casca de fato diminuía sua radiosidade. Revelou-nos que a casca deve ser quebrada fim de liberar aquele ser. Deve ser quebrada de dentro para fora no tempo certo, como as criaturas que saem do ovo quebram as cascas. Se não quebrarem, ficam sufocadas e morrem. Como as criaturas que saem da casca do ovo, não ha meio do guerreiro quebrar a casca de sua luminosidade antes do tempo certo.
Dom Juan nos falou que perder a forma humana era o único meio de quebrar aquela casca, o único meio de liberar aquele núcleo luminoso assustador, o núcleo da conscientização, que é o alimento da Águia. Quebrar a casca significa lembrar-se do outro eu, e chegar à sua própria totalidade.”

(O Presente da Águia, Carlos Castañeda)

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